O ministro
da Igualdade Racial, Eloi Ferreira, esteve na manhã de sábado em Teresópolis, no
Ceac da praça de Santa Teresa, onde participou de um encontro com militantes do
Partido dos Trabalhadores.
Surpreendido pelas obras na serra de
Teresópolis, o que provocou um atraso no encontro, Ferreira lembrou,
inicialmente, que não é a primeira vez
que vem à cidade. No evento, ele encontrou seu colega dos tempos de faculdade, Frederico
dos Anjos, o Fred. Os dois foram presidente e vice do movimento estudantil na Universidade
Rural, em Seropédica.
Ferreira
iniciou sua fala lembrando que o Brasil vive um momento de avanço em todas as
áreas, inclusive na questão do racismo. Lembrou que o fim da escravidão foi um
avanço importante. “A Lei Áurea não é
uma bobagem como algumas correntes intelectuais querem fazer crer.
A lei tirou
dos grilhões 1 milhão de escravos. Mas, enquanto o imigrante europeu era
beneficiado, de todas as maneiras, pelo nascente estado brasileiro, os negros
eram deixados à própria sorte, marginalizados na sociedade, principalmente nos
centros urbanos, onde eram obrigados, para continuar vivendo, a aceitar
quaisquer atividades, as mais servis e degradantes que fossem”.
Eloi
Ferreira lembrou uma legislação vigente até a década de sessenta, que 50% das
vagas nas faculdades eram destinadas, prioritariamente, a filhos de
proprietários de terras, o que, praticamente, negava aos negros o direito de
ingressar no terceiro grau. O ministro lembrou, ainda, que o clube Vasco da Gama, nos anos 20, chegou a ser
expulso da então liga do Rio de Janeiro, porque admitiu negros em seu quadro de
sócios e no time de futebol. “O clube preferiu a expulsão a abrir mão de suas
convicções”, rememorou.
O ministro enfatizou
que foi necessário Luiz Inácio Lula da Silva vencer as eleições, para que se
iniciasse o desafio de vencer o racismo, através de políticas de estado. Disse
que apesar da polêmica e do esforço de alguns senadores de oposição, prontamente
rechaçados pelo governo federal, a lei de cotas para estudantes negros
permanece vigente.
“E, ao
contrário do que parte da mídia denunciava - falando inclusive no aparecimento
de um racismo às avessas - o convívio entre cotistas e os outros estudantes tem
sido o melhor possível. Hoje são 714.000 estudantes no Prouni, 50% deles negros e pardos”, esclareceu.
Eloi
Ferreira lembrou que é “imprescindível a vitória da companheira Dilma Rousseff,
para a continuidade de políticas afirmativas em relação à população negra do
país. Precisamos entender que a legislação vigente hoje é um ponto de partida,
apenas. Precisamos entender que é necessário um Congresso forte para apoiar
futuras decisões nesse sentido. Precisamos entender que votar nos candidatos do
partido e da coligação é fundamental para que Dilma possa dar prosseguimento à
linha de conduta implantada por Lula”.
O ministro
alertou os militantes petistas que, no momento, entre 81 senadores, apenas um,
Paulo Paim, é negro e dos 513 deputados apenas 18 são pardos ou negros. Eloi
Ferreira chamou a atenção da platéia para a necessidade de uma reforma política,
que aprofunde ainda mais a democracia brasileira. Disse ser visceralmente
contra o chamado voto distrital, mas acredita na construção de um projeto
político que dê continuidade às políticas implantadas pelo atual governo.
Mais tarde,
em outra intervenção, Ferreira lembrou que no dia 22 de novembro serão
completados 100 anos do fim da lei da chibata, pela qual, os marinheiros negros
e somente os negros, estavam sujeitos a sofrer chibatadas, diante de qualquer
presumível desvio de conduta.
“Nós,
negros, não podemos deixar cair no esquecimento a memória do marinheiro João
Candido, que assumiu o comando da frota da marinha de guerra, apontou os
canhões para o Rio de Janeiro e, sem dar um tiro, conseguiu por fim a essa
prática contra a dignidade do ser humano”.
A reunião
teve como mestre de cerimônias a professora Clarissa Lima. Clarissa lembrou as
dificuldades, quando aluna das escolas particulares de Teresópolis, era vítima
de brincadeiras de mau gosto de seus coleguinhas brancos.
Prosseguiu,
afirmando que até hoje, nas escolas, a história dos negros do Brasil - a
história de suas origens africanas - é omitida nos currículos. Lembrou a
discriminação que ocorre no momento em que o jovem afrobrasileiro busca seu
primeiro emprego. “Você, com um currículo desses”! é a exclamação comum diante
da visão de um jovem negro com formação escolar sólida.
Clarissa
registrou que só com o Prouni foi possível o ingresso de estudantes negros na
FESO e chamou a atenção para estudantes negros que “devem ocupar seu lugar no
campus da UERJ recentemente instalado em Teresópolis”.
Nomes do
movimento negro de Teresópolis, como a advogada Rosa Maria, secretários
municipais, como Rudimar Caberlon, do Desenvolvimento Social, o vereador
Cláudio Mello, o presidente do PT, Ary Moraes
e representantes de outras secretarias, estiveram presentes ao encontro.
Antes da chegada do ministro Eloi Ferreira, um depoimento emocionado calou a
platéia.
O enfermeiro
negro Sebastião Carlos Silva deu seu testemunho sobre as dificuldades que o negro
enfrenta numa sociedade branca. Contou que foi preterido em vários empregos,
mas em nenhum momento baixou a cabeça.
Trabalha hoje na cidade do Rio de Janeiro e
lamentou a distância que separa Teresópolis da capital em termos de preconceito
racial. Disse que só há dois caminhos para os afrodescendentes: ou ser frouxo,
fraco e ser chamado de “bicha” ou ser valente, corajoso e forte para lutar por
seus direitos.
Para ele, a
transformação para uma sociedade mais justa só pode ser obtida através da prática
política. Sebastião convocou os presentes a votar, a escolher representantes
que possam ser sensibilizados pelas reivindicações da população negra.
Sueli Pires,
do sindicato dos Profissionais de Saúde, lembrou que é preciso alertar uma
parte da população negra que, segundo suas palavras, também contribui para o
racismo, à medida que discrimina os próprios negros.
“Há pessoas,
mesmo no SUS, que não querem ser atendidas por médicos negros ou enfermeiras negras.
Precisamos ser realistas: jogadores de futebol negros, em geral, só se casam
com mulheres brancas. É preciso vencer também esse tipo de barreira”, concluiu
Sueli Pires. O vereador Cláudio Mello,
depois da fala do ministro, reforçou a necessidade do voto em candidatos que,
no Congresso, possam auxiliar Dilma Rousseff, na presidência. A advogada Rosa
Maria Lima lembrou que o PT é uma referência desde que participou da luta
contra a ditadura militar.
O presidente
do PT, Ary Moraes, reafirmou sua fé na eleição de Dilma Rousseff e bateu na
mesma tecla: “é preciso dar apoio a Dilma, elegendo um Congresso que não crie obstáculos
aos projetos que dão continuidade às políticas implementadas no governo Lula”.
Reportagem:
José Attico
Nenhum comentário:
Postar um comentário