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domingo, 12 de setembro de 2010

Ministro da Igualdade Racial vem a Teresópolis e fala sobre política


O ministro da Igualdade Racial, Eloi Ferreira, esteve na manhã de sábado em Teresópolis, no Ceac da praça de Santa Teresa, onde participou de um encontro com militantes do Partido dos Trabalhadores.

 Surpreendido pelas obras na serra de Teresópolis, o que provocou um atraso no encontro, Ferreira lembrou, inicialmente,  que não é a primeira vez que vem à cidade. No evento, ele encontrou seu colega dos tempos de faculdade, Frederico dos Anjos, o Fred. Os dois foram presidente e vice do movimento estudantil na Universidade Rural, em Seropédica.


Ferreira iniciou sua fala lembrando que o Brasil vive um momento de avanço em todas as áreas, inclusive na questão do racismo. Lembrou que o fim da escravidão foi um avanço importante.  “A Lei Áurea não é uma bobagem como algumas correntes intelectuais querem fazer crer.

A lei tirou dos grilhões 1 milhão de  escravos.  Mas, enquanto o imigrante europeu era beneficiado, de todas as maneiras, pelo nascente estado brasileiro, os negros eram deixados à própria sorte, marginalizados na sociedade, principalmente nos centros urbanos, onde eram obrigados, para continuar vivendo, a aceitar quaisquer atividades, as mais servis e degradantes  que fossem”.

Eloi Ferreira lembrou uma legislação vigente até a década de sessenta, que 50% das vagas nas faculdades eram destinadas, prioritariamente, a filhos de proprietários de terras, o que, praticamente, negava aos negros o direito de ingressar no terceiro grau. O ministro lembrou, ainda, que o clube  Vasco da Gama, nos anos 20, chegou a ser expulso da então liga do Rio de Janeiro, porque admitiu negros em seu quadro de sócios e no time de futebol. “O clube preferiu a expulsão a abrir mão de suas convicções”, rememorou.

O ministro enfatizou que foi necessário Luiz Inácio Lula da Silva vencer as eleições, para que se iniciasse o desafio de vencer o racismo, através de políticas de estado. Disse que apesar da polêmica e do esforço de alguns senadores de oposição, prontamente rechaçados pelo governo federal, a lei de cotas para estudantes negros permanece vigente.

“E, ao contrário do que parte da mídia denunciava - falando inclusive no aparecimento de um racismo às avessas - o convívio entre cotistas e os outros estudantes tem sido o melhor possível. Hoje são 714.000 estudantes no Prouni, 50%  deles negros e pardos”, esclareceu.

Eloi Ferreira lembrou que é “imprescindível a vitória da companheira Dilma Rousseff, para a continuidade de políticas afirmativas em relação à população negra do país. Precisamos entender que a legislação vigente hoje é um ponto de partida, apenas. Precisamos entender que é necessário um Congresso forte para apoiar futuras decisões nesse sentido. Precisamos entender que votar nos candidatos do partido e da coligação é fundamental para que Dilma possa dar prosseguimento à linha de conduta implantada por Lula”.

O ministro alertou os militantes petistas que, no momento, entre 81 senadores, apenas um, Paulo Paim, é negro e dos 513 deputados apenas 18 são pardos ou negros. Eloi Ferreira chamou a atenção da platéia para a necessidade de uma reforma política, que aprofunde ainda mais a democracia brasileira. Disse ser visceralmente contra o chamado voto distrital, mas acredita na construção de um projeto político que dê continuidade às políticas implantadas pelo atual governo.
Mais tarde, em outra intervenção, Ferreira lembrou que no dia 22 de novembro serão completados 100 anos do fim da lei da chibata, pela qual, os marinheiros negros e somente os negros, estavam sujeitos a sofrer chibatadas, diante de qualquer presumível desvio de conduta.

“Nós, negros, não podemos deixar cair no esquecimento a memória do marinheiro João Candido, que assumiu o comando da frota da marinha de guerra, apontou os canhões para o Rio de Janeiro e, sem dar um tiro, conseguiu por fim a essa prática contra a dignidade do ser humano”.

A reunião teve como mestre de cerimônias a professora Clarissa Lima. Clarissa lembrou as dificuldades, quando aluna das escolas particulares de Teresópolis, era vítima de brincadeiras de mau gosto de seus coleguinhas brancos.

Prosseguiu, afirmando que até hoje, nas escolas, a história dos negros do Brasil - a história de suas origens africanas - é omitida nos currículos. Lembrou a discriminação que ocorre no momento em que o jovem afrobrasileiro busca seu primeiro emprego. “Você, com um currículo desses”! é a exclamação comum diante da visão de um jovem negro com formação escolar sólida.

Clarissa registrou que só com o Prouni foi possível o ingresso de estudantes negros na FESO e chamou a atenção para estudantes negros que “devem ocupar seu lugar no campus da UERJ recentemente instalado em Teresópolis”.

Nomes do movimento negro de Teresópolis, como a advogada Rosa Maria, secretários municipais, como Rudimar Caberlon, do Desenvolvimento Social, o vereador Cláudio Mello, o presidente do PT, Ary Moraes  e representantes de outras secretarias, estiveram presentes ao encontro. Antes da chegada do ministro Eloi Ferreira, um depoimento emocionado calou a platéia.

O enfermeiro negro Sebastião Carlos Silva deu seu testemunho sobre as dificuldades que o negro enfrenta numa sociedade branca. Contou que foi preterido em vários empregos, mas em nenhum momento baixou a cabeça.

 Trabalha hoje na cidade do Rio de Janeiro e lamentou a distância que separa Teresópolis da capital em termos de preconceito racial. Disse que só há dois caminhos para os afrodescendentes: ou ser frouxo, fraco e ser chamado de “bicha” ou ser valente, corajoso e forte para lutar por seus direitos.

Para ele, a transformação para uma sociedade mais justa só pode ser obtida através da prática política. Sebastião convocou os presentes a votar, a escolher representantes que possam ser sensibilizados pelas reivindicações da população negra.

Sueli Pires, do sindicato dos Profissionais de Saúde, lembrou que é preciso alertar uma parte da população negra que, segundo suas palavras, também contribui para o racismo, à medida que discrimina os próprios negros.

“Há pessoas, mesmo no SUS, que não querem ser atendidas por médicos negros ou enfermeiras negras. Precisamos ser realistas: jogadores de futebol negros, em geral, só se casam com mulheres brancas. É preciso vencer também esse tipo de barreira”, concluiu Sueli Pires.  O vereador Cláudio Mello, depois da fala do ministro, reforçou a necessidade do voto em candidatos que, no Congresso, possam auxiliar Dilma Rousseff, na presidência. A advogada Rosa Maria Lima lembrou que o PT é uma referência desde que participou da luta contra a ditadura militar.

O presidente do PT, Ary Moraes, reafirmou sua fé na eleição de Dilma Rousseff e bateu na mesma tecla: “é preciso dar apoio a Dilma, elegendo um Congresso que não crie obstáculos aos projetos que dão continuidade às políticas implementadas no governo Lula”.


Reportagem: José Attico

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