Minha
análise é pessoal, claro, e política: hoje, o melhor texto publicado por
jornais e revistas no Brasil é de Luis Fernando Veríssimo. Veríssimo já criou
personagens que fizeram história, como a velhinha de Taubaté, que acreditava em
tudo o que os jornais publicavam durante a ditadura militar (quando já se
ensaiava o que fazem hoje, Veja, Folha de São Paulo, Estadão e O Globo). Na
época, o país ia às mil maravilhas com o “milagre brasileiro” sendo enfiado
goela abaixo dos leitores.
Veríssimo,
ao contrário de outros jornalistas e intelectuais, manteve sua posição política
através dos anos. Não abriu mão de suas ideias, embora seus contos e crônicas sejam
publicados em jornais que caminharam para a direita mais radical e que, há
muito, já jogaram na lixeira aquilo que algum dia foi chamado de jornalismo.
É
claro que tudo isso tem um preço. O descrédito do que se publica nos jornais é
um dos fatores do brusco recuo nas tiragens e também das pessoas mais jovens buscar a internet como fonte de informações.
Um
parêntesis: filho e neto de repórteres, tenho absoluta certeza de que o
jornalismo do começo do século 20, quando meu avô frequentava as redações do Rio, era muito melhor do que o
praticado no tempo do meu pai.
Foi quando as coisas começaram a mudar e o respeito
pelo profissional passou a ficar em linha direta, não com seu talento ou
entusiasmo para a apuração - ou mesmo, seu texto de melhor qualidade - mas pela
forma subserviente com que aderia às ideias de patrões e editores.
Sobre o que
ocorre hoje em dia nem é necessário escrever muito.
É claro que
não é a primeira vez na história moderna do Brasil que estamos assistindo a um
verdadeiro festival de factóides, meias verdades e mentiras, as mais
deslavadas.
Foi assim no caso da “guerrilheira” Dilma Rousseff - Dilma teria participado de ações violentas, o que nunca ocorreu - produto de um
e-mail que os jornais publicaram sem checar sua veracidade. O fato foi
desmentido, ou melhor, transformado em meia verdade, esgrimida, até hoje, por pessoas e veículos sem
qualquer escrúpulo.
Nos idos dos
anos 50, uma campanha semelhante levou Getúlio Vargas ao suicídio e, no momento
seguinte, os autores de factóides e meias verdades exibidos nos jornais de
oposição, embarcaram em navios da Marinha e passaram alguns dias distantes da
costa, até que as coisas se acalmassem e o povão digerisse a morte de Vargas.
Foi assim,
também, com João Goulart, acusado de
pró-comunista, mentor de uma “república sindicalista” e outras qualificações,
que puseram parte da classe média nas ruas pela derrubada do presidente eleito. E contra
seu governo, que pregava reformas de base.
O resultado? Vinte e um 21 anos de ditadura
militar, com torturas, desaparecimentos, assassinatos nos porões, terrorismo do estado.
Leonel Brizola, quando governador do Rio de Janeiro, foi acusado de comandar
o tráfico no estado e vai por aí.
O
interessante é que quando de sua morte, Brizola recebeu homenagens dos seus mais agressivos adversários. O Globo, por
exemplo, dedicou ao então ex-governador, uma página inteira de obituário,
cobrindo de elogios sua trajetória como político.
A situação, no momento, é
outra. Os jornalões perderam muito de seu poder como formadores de opinião e
uma classe média emergente, produto da política econômica dos últimos anos,
assumiu posição no novo cenário da história do Brasil.
Velhos
clientes de sucessivos governos – incluindo-se aí os militares – os jornalões
perdem o ritmo. Empresas como a Abril, que edita a Veja, e que vêm sendo
beneficiadas com verbas do governo José Serra, em São Paulo, afiam as garras,
imaginando o quanto poderiam lucrar com Serra na presidência.
A história
da eleição de 2010, que será contada um dia, vai nos lembrar o que está sendo
feito pela mídia contra a candidata do PT à presidência. Haverá mais, porque
ainda faltam alguns dias para a eleição e os dossiês mentirosos e pesquisas
tendenciosas estão a caminho.
O problema é que, num momento em que a economia vai
bater todos os recordes de crescimento, fica difícil convencer as pessoas
beneficiadas de que devem votar para mudar os rumos.
Quando a
história for escrita, vamos poder ver quais dos chamados jornalistas e intelectuais
brasileiros mantiveram suas posições, até mesmo à custa do emprego e quem caminhou
submisso e derrotado nas posições tomadas por seus empregadores.
A história passa e muitas vezes a
subserviência acaba levando o jornalista à demissão.
Patrões
estão sempre dispostos a não contrariar, demasiadamente, quem está no poder e, às
vezes, o autor das matérias não cabe na nova ordem.
P.S
O texto de
Luiz Fernando Veríssimo “Corrida de dez dias” está postado neste blog.
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