Que a
presença de turistas nas ruas, bares e restaurantes de Teresópolis aumentou
muito de dois anos para cá, é visível. Basta alguém se dar ao trabalho de observar
as placas dos carros que frequentam as ruas do Alto e do centro da cidade nos
fins de semana, mesmo os não prolongáveis, como o sete de setembro.
Os hotéis e
pousadas, em sua maioria, registram um aumento na taxa de ocupação. Alguns
gerentes usam a expressão “crescimento significativo” para ratificar a mudança.
E quem são
os novos hóspedes? Para Célia Regina da Silva, da pousada Toca Terê, Rua
Reinaldo Viana, 277, Ingá, mudou o perfil do hóspede. “Antes quem se hospedava
aqui eram pessoas da classe AA, que fechava um pacote de, digamos, três dias,
pagando duas diárias.
Hoje, quem
passa o fim de semana em Teresópolis procura um jeitinho de pagar apenas uma
diária. Em compensação, a taxa de ocupação aumentou. Mas quando cai a média de
permanência, os custos do hoteleiro ficam mais altos, já que ele é obrigado a
remontar o chalé com maior frequência”.
E prossegue:
“mas essas pessoas, em geral de uma classe B em ascensão, são ótimos hóspedes,
menos exigentes, sempre felizes com o serviço”. Outro detalhe: diminuiu o
número de paulistas que vinham à Toca Terê. ”Hoje o hóspede mais numeroso é o
que vem do Rio de Janeiro e Niterói”.
Para Célia
Regina, no entanto, o feriado de sete de setembro foi um fiasco, o que atribui
à proximidade das eleições. Segundo ela,
muitas pessoas envolvidas diretamente com a eleição, estavam trabalhando nas
campanhas e só devem reaparecer depois de 3 de outubro.
Em outra
pousada, a Meu Repouso, na Rua Melo Franco, 295, Alto, muito próximo da
Feirarte, a proprietária Doris Martins Ferreira acredita que o aumento da taxa
de ocupação fica em torno dos 10%. Mas durante a semana os números caem.
“De domingo
a sexta ficamos com alguma coisa em torno de 5% a 10% de taxa de ocupação. Mas
nos fins de semana e principalmente nos fins de semana prolongados temos casa
cheia, com 90% a 100% de hóspedes na pousada”. Segundo as informações do
pessoal da pousada, o perfil do hóspede não mudou. A Meu Repouso é reduto da
classe média.
Marcos Lima,
gerente do São Moritz, Estrada Teresópolis-Friburgo, Km 36, Vieira, diz que o
fluxo de turistas melhorou um pouco, apesar de uma queda em 2009, que ele interpreta
como consequência da crise na economia mundial.
A taxa de
ocupação cresceu entre 5% e 10%, segundo ele “em razão do aumento do poder
aquisitivo da classe média, que passou a direcionar parte da renda para o lazer”.
Mudou o perfil do hóspede? “Antigamente só os mais ricos frequentavam o
hotel.
As taxas de ocupação no São Moritz ficam entre
80% e 100% nos feriadões. Durante a semana, em torno de 60%. Nos finais de
semana é o imponderável, mas pode chegar a 100%”.
Outro
detalhe lembrado por Lima: aumentaram as despesas dos hóspedes dentro do hotel.
“A venda de vinho pulou de 2 a 3
garrafas por fim de semana, para alguma coisa em torno de 15. As pessoas
começaram a ter mais informações sobre os vinhos, melhoraram seu paladar e
estão bebendo mais.
Também
aumentou o consumo de cervejas mais caras”. Outra mudança de comportamento é registrada
pelo gerente do São Moritz: “no passado os hóspedes ficavam em torno de 10 dias
no hotel, mas vinham uma ou duas vezes por ano. Hoje, esse número aumentou para
seis, sete vezes, com menor tempo de permanência.”
Muita gente
vem para o fim de semana, com chegada na sexta, no final da tarde e saída na
tarde de domingo o que equivalem a duas diárias. Datas como carnaval e reveillion
a permanência sobe para três, quatro dias.
Na pousada
Albuquerque, Rua Guatemala, 50, Albuquerque, o proprietário Antônio Augusto Pimentel não observou mudanças
nem na taxa de ocupação nem no perfil dos hóspedes. “Para nós a situação é a mesma.
A pousada
quase não trabalha com clientes de balcão (pessoas que não fazem reserva
antecipada ou simplesmente se apresentam na portaria). Nossos hóspedes, em sua
grande maioria, são pessoas de clubes de viagem, conveniados, que chegam em
grupos, geralmente no meio da semana e gastam duas diárias”.
Na pousada
Ukimara, o gerente, Fabiano de Paula Ferreira, também não observou aumento na
taxa de ocupação nem mudança no perfil dos hóspedes. “São casais entre 30 e 65
anos que passam o fim de semana na pousada; pessoas que podem ser chamadas de
classes médias A e B. O público se renovou, mas as características se
mantiveram”, conclui.
Caldun Salha,
do Bel Air Hotel, Rua Cláudio de Souza, 50, Soberbo, acha que o perfil dos
hóspedes não mudou. Para ele que trabalha com a classe média (e não com a
classe A, como enfatiza) o movimento aumentou em cerca de 20% nos últimos
tempos.
O
proprietário do hotel, no entanto, atribui esse crescimento da taxa de ocupação
“ao aumento dos atrativos da cidade e à melhora no marketing do hotel”. Cuidadoso, Salha diz que não
poderia aferir o aumento do número de hóspedes ao crescimento da renda das
famílias.
A maioria
dos hóspedes do Bel Air fica no hotel durante o fim de semana, feriadões e não
costuma prolongar esses períodos nem mesmo durante as férias.
No Hotel
Village Le Canton, Rua Diógenes Pedro da Costa, s/nº, Vargem Grande, Cristina
Mendes, gerente geral, no cargo há um ano e nove meses, diz que a taxa de
ocupação aumentou significativamente. “No passado, antes da minha gestão,
tínhamos uma taxa de ocupação mais baixa com hóspedes da chamada classe A”.
“Agora,
temos um mixed de classes com alta taxa de ocupação. Para você ter uma idéia, a
partir de outubro, não há mais apartamentos disponíveis até o final do ano.
Isso é, sem dúvida, o resultado do crescimento do turismo em Teresópolis”.
Cristina acredita que a demanda aquecida é
resultado do aumento da renda das famílias, mas lembra que o Le Canton passou
por uma grande mudança nos serviços e atendimento ao hóspede.
“Hoje temos
um atendimento diferenciado, que faz com que os hóspedes já estejam retornando
dois ou três meses depois”, explica. “Isso significa um grande aumento na taxa
de ocupação”, conclui.
* O filme de
Elio Petri chama-se, na verdade, “A Classe Operária Vai ao Paraíso”. Foi rodado
em 1971 na Itália e conta a história de um operário -odiado por seus
companheiros de trabalho e adorado pelos patrões - que tem sonhos de ascender à
classe média. Nos papéis principais dois ícones de Cinecittà: Gian Maria Volonté
e Salvo Randone.
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