O preferido das mestras é imposto aos alunos |
Algumas
professoras da rede municipal de Teresópolis estão fazendo propaganda do
candidato José Serra nas salas de aula. Quando encontram resistência recomendam
Marina Silva, do PV. Embora esse tipo de comportamento deva ser enquadrado no
que chamamos de falta ética na sala de aula, o método utilizado pelas
professoras é um primor de falta de imaginação explícita.
Durante as aulas, algumas das mestras (e
mestres) vêm utilizando o terrorismo como método de caçar votos para os tucanos.
Assim, Dilma é apresentada como “uma mulher que já esteve presa “(sem, é claro,
com uma explicação sobre os motivos da prisão). Quando os alunos questionam, a
resposta é que a candidata do PT à presidência “era terrorista”.
A mentira
pode ter pernas curtas, mas no caso, ao invés de ajudar democraticamente a
escolha do candidato a presidente pelo aluno, a professora (ou o professor)
apostam no engodo. Isso, porque boa parte dos estudantes talvez não tenha
acesso à Internet. Ou se tem, talvez encontre dificuldades para checar o
passado dos candidatos.
Outros nem
se darão ao trabalho, acreditando que a professora (ou professor) não é apenas
um medíocre cabo eleitoral de Serra, mas uma pessoa isenta, creditada a dar
informações corretas sobre um assunto sério. Os alunos das escolas públicas
estão quase sempre propensos a acreditar nas palavras de quem está posto ali
para passar conhecimento.
Alguns são
jovens demais para questionar, outros que tentam aprender para fugir da dura
rotina do analfabetismo, nem têm como se informar, suficientemente, para
contestar.
Mas a regra
tem suas exceções. Dia desses um aluno do segundo grau resolveu
contra-argumentar no caso da prisão de Dilma Rousseff. E diante da turma levantou-se
para explicar aos colegas que “a prisão se deveu à luta da candidata contra a
ditadura. E seguiu em frente perguntando à mestra se ela havia percebido que “a
vida melhorou muito nos últimos anos”.
A discussão
continuou, ainda que amistosa, até que sem argumentos, a professora disse que
não votaria na candidata do PT porque “Dilma tem cara de maluca”. Com um
argumento desse o aluno encerrou a discussão, desejando boa sorte à professora
na hora de votar em José Serra.
Pode ser
surpreendente que uma professora use de argumento como esse para fazer
propaganda do candidato tucano em sala de aula. Mais, ainda, quando, pela
primeira vez, o governo federal tenta estabelecer para a categoria, um piso
nacional bem acima do que vem sendo, historicamente, pago aos professores.
Pode ser
surpreendente também que pessoas da classe média, beneficiadas pelo crescimento
do crédito, implementação de programas habitacionais e aumento do número de
empregos, por exemplo, optem por um candidato que até outro dia prometia seguir
à risca o programa do PT e ia para a televisão com um retrato de Luiz Inácio
Lula da Silva no fundo do cenário.
Pode ser
surpreendente, mas é assim mesmo. Sociólogos e antropólogos há anos fazem
estudos e pesquisas sobre o comportamento das classes médias conservadoras. A
conclusão é que essas pessoas tendem a fixar-se no desejo de “parecer mais
rico”. Ou seja, a ideia é seguir padrões de comportamento de grupos sociais que
estão naquilo que, comumente, chamamos de “topo da pirâmide”.
Como fica
difícil assumir padrões que só o dinheiro – e muito – pode comprar, o jeito é
uma aproximação através de canais que permitam um aparente equilíbrio entre os
mais abastados e a classe média.
Nesse caso,
o voto pretende estabelecer uma linha demarcatória entre “o nosso voto” – da
classe média – e o voto dos pobres, favelados e deserdados da sorte, o voto do
trabalhador que, embora tenha deixado para trás o salário mínimo de US$ 73 para
alguma coisa em torno de US$ 250, continua estigmatizado.
Aliás, o aumento da
renda das famílias aproxima “perigosamente” os “pobres” da classe média
conservadora.
A troca da
favela pelo apartamento do “Minha Casa, Minha Vida” no mesmo bairro de classe
média, a descida do morro para o asfalto e, principalmente, a proximidade não
só física, mas de hábitos e costumes, irrita pessoas como a professora
serrista, que imagina “usurpados alguns de seus direitos ancestrais”.
A linha
demarcatória entre os que se consideram parceiros dos ricos e os que por eles
são considerados pobres se faz na hora do voto. Mesmo que esse voto, às vezes,
possa contrariar os interesses da própria classe. É do jogo.
Texto de José
Attico
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