Folha de São Paulo:
“... a petista passou o tucano em São Paulo,
no Rio Grande do Sul e no Paraná e entre os eleitores com maior faixa de renda...”
A última
pesquisa Datafolha, publicada quinta-feira (26) mostra um dado novo e
preocupante para a oposição. E não só para tucanos e demos, mas também para
conservadores de vários matizes: Dilma vence também entre os eleitores mais
ricos. Tenho uma certa dificuldade em acreditar que antropólogos e sociólogos
de plantão previssem um resultado como esse.
Embora haja
uma pista. Ouvi de uma velha senhora, tempos atrás, que não apoiava Lula por puro preconceito. (Ela usou a palavra
preconceito sem nenhum problema). Era uma mulher lúcida, que nasceu na década
de 20 e trazia toda uma carga emocional de classe média. Morava na Zona Sul do
Rio de Janeiro e não aceitava que um operário tivesse chegado à presidência.
Mesmo
sabendo, e ela sabia, que a política econômica tinha livrado o Brasil da crise
das sub primes, que o país crescia, que a retomada do emprego começava a bater
recordes, assim como a produção industrial.
A velha senhora concordava com tudo
isso mas... “É preconceito, eu não posso aceitar que uma pessoa de pouca
instrução esteja na presidência”, dizia.
Então, o
apoio da classe média alta pode não ser tão surpreendente assim: Dilma, uma
mulher de classe média e instrução universitária pode ser mais palatável a um grupo numeroso de abastados que nunca
engoliu o “Sapo Barbudo”. (O copyright
de “Sapo Barbudo” é de Leonel de Moura Brizola.)
No entanto,
é necessário ver quem são essas pessoas. Normalmente, o IBGE classifica entre
os mais ricos pessoas que sejam proprietárias de suas casas,
tenham um carro na garagem e todos os eletro-eletrônicos que fazem parte do
chamado mundo moderno.
É possível
que haja no Brasil de hoje um formidável contingente de “eleitores com maior
faixa de renda”, sem que necessariamente sejam donos de meios de produção.
E para essas pessoas, o crescimento da
economia nos últimos oito anos pode significar prosperidade ou a percepção de que
a queda do desemprego e benefícios auferidos pela população mais pobre deve se refletir
em sua qualidade de vida.
Há, por
exemplo, entre pessoas com maior nível de instrução, a certeza de que o
desemprego é fonte de produção da violência, principalmente na periferia das
grandes cidades. Alguns deploram o crescimento de favelas em áreas de mata
nativa, outros são sensíveis aos grupos de moradores de rua que, de repente,
surgem do nada para ocupar as calçadas vizinhas a seus prédios de luxo.
O nível de
instrução dá a essas pessoas uma ferramenta para interpretar a realidade dos
últimos oito anos. É gente que já conhece a atuação do FMI, sabe os riscos
representados pelo baixo nível das reservas e não
chega a se surpreender com o estabelecimento de um círculo virtuoso na
economia.
Pode até
reclamar do crescimento da presença do estado, mas enxerga nisso uma tendência
mundial. Os mais espertinhos podem até concluir que sob seu olhar, um tanto
perplexo, a roda da História está se movendo mais rápido do que o esperado.
São pessoas
que, possivelmente, deram um segundo mandato a FHC porque também eram atingidas
pela inflação, mas agora não querem saber de uma volta ao marasmo e ao
crescimento zero vírgula qualquer coisa.
É provável que alguns desses motivos
levem a candidata do PT a estar em primeiro lugar nas intenções de voto entre
os eleitores com maior faixa de renda.
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