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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Serra e os poderosos mísseis de papel

 “Edema sem ferimento aparente”. Sei não, essa pérola foi ao ar hoje (21) no Jornal Nacional. A empresa da família Marinho quer ajudar Serra de qualquer maneira e, às vezes, resvala em bobagens do gênero. 

É meio complicado para um leigo entender, mas, por via das dúvidas, quem for atingido por bolinhas de papel ou bobinas vazias de fita crepe deve correr para o hospital mais próximo. E pedir ingresso imediato na UTI. 

Serra deve ter pensado nisso, mas como a campanha precisava continuar, um médico amigo instruiu o candidato a contar para os repórteres que os dois mísseis de papel que atingiram sua cabeça provocaram náuseas e tonturas. Mas Serra não teve uma boa performance no papel.

Os embates nas eleições a que assisti, depois da ditadura militar, foram mais ou menos desse calibre. Deixa-se de lado o programa do candidato e passa-se à criação de factóides, o exercício da mentira escancarada e a manipulação de fatos. 

No caso de tucanos & assemelhados, foram eles e seus assessores que trouxeram para a campanha, aborto e casamento gay e , por tabela, a questão religiosa. Serra tinha tomado medidas até liberais com relação à interrupção da gravidez, mas ao sabor da campanha, sua mulher, Mônica, acusou Dilma de querer “matar criancinhas”.

O resultado do embate em que ficaram misturados evangélicos e católicos fanáticos (e alguns espertinhos que ganharam um troco pelas manifestações explícitas contra Dilma Rousseff) foi terrível para mulheres que sofram, por iniciativa própria ou não, um processo de aborto. 

Sem assistência do SUS - já que ambos os candidatos não deverão descriminalizar a prática pelo menos nos próximos quatro anos - muitas delas, a maioria jovens, vão morrer de septicemia em clínicas clandestinas Brasil afora. 

Nessas ocasiões , quando o quadro se agrava, a paciente, em geral, é levada às pressas para a emergência de um hospital público, o que contribui para onerar ainda mais os custos da saúde no país.

O episódio dos mísseis de papel e a encenação de Serra não adiantaram muito porque, no dia seguinte, Dilma Rousseff foi atingida por um saco plástico com água, no Rio Grande do Sul. 

Dilma não simulou ferimentos nem procurou socorro no consultório de um médico petista. Continuou na campanha e aproveitou a presença - quase sempre hostil - da mídia corporativa para mandar recado ao adversário.

O grupo em torno de Serra é exímio em trapalhadas. A primeira foi escolher Índio da Costa (DEM) para vice do tucano. Na virada para o segundo turno, Serra e a cúpula do partido tentaram trocar de personagem, mas foram desaconselhados.  

A legislação, dúbia no caso, impediu que o vice indesejável fosse defenestrado. O resultado é que o ex-prefeitinho do Rio está proibido de abrir a boca. Quando o fez, aliás, no início da campanha, foi um desastre.

A segunda trapalhada foi exibir uma foto do presidente Lula, no fundo do cenário, durante os primeiros dias da campanha na TV. Choveram críticas, Lula disse que não se importava com o uso de sua imagem e o banner desapareceu do dia para a noite. 

Agora,  Serra simula  ferimentos graves depois de ser atingido por uns poucos gramas de papel. Será que o respeitável público vai acreditar na simulação?

Como a popularidade de Lula continua intacta, o programa do PSDB, que está sendo exibido, consiste apenas em tentar demonstrar que o candidato vai continuar na mesmíssima  linha do governo  – o que só mesmo a velhinha de Taubaté acredita – e, no embalo, ainda vai aumentar o mínimo para R$ 600 e dar 13º para o pessoal do Bolsa Família. 

Logo Serra, sempre favorável ao arrocho e defensor da máxima segundo a qual todo aumento no salário mínimo provoca inflação.

Aliás, se eleito fosse, Serra poderia justificar junto ao respeitável público o não cumprimento das promessas de campanha.  Afinal, todo mundo sabe que ele rasgou o compromisso de permanecer por quatro anos como prefeito de São Paulo. 

Compromisso assumido diante de alguns poucos milhões de espectadores que assistiam ao debate pela TV Record e ratificado, depois, num cartório da cidade.


Dicionário do Aurélio

“Edema: acúmulo de líquido proveniente do sangue em qualquer tecido ou órgão”.

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