“Edema sem ferimento aparente”. Sei não, essa
pérola foi ao ar hoje (21) no Jornal Nacional. A empresa da família Marinho
quer ajudar Serra de qualquer maneira e, às vezes, resvala em bobagens do
gênero.
É meio complicado para um leigo entender, mas, por via das dúvidas,
quem for atingido por bolinhas de papel ou bobinas vazias de fita crepe deve correr
para o hospital mais próximo. E pedir ingresso imediato na UTI.
Serra deve ter
pensado nisso, mas como a campanha precisava continuar, um médico amigo instruiu
o candidato a contar para os repórteres que os dois mísseis de papel que
atingiram sua cabeça provocaram náuseas e tonturas. Mas Serra não teve uma boa
performance no papel.
Os embates
nas eleições a que assisti, depois da ditadura militar, foram mais ou menos desse
calibre. Deixa-se de lado o programa do candidato e passa-se à criação de factóides,
o exercício da mentira escancarada e a manipulação de fatos.
No caso de tucanos
& assemelhados, foram eles e seus assessores que trouxeram para a campanha,
aborto e casamento gay e , por tabela, a questão religiosa. Serra tinha tomado
medidas até liberais com relação à interrupção da gravidez, mas ao sabor da
campanha, sua mulher, Mônica, acusou Dilma de querer “matar criancinhas”.
O resultado do
embate em que ficaram misturados evangélicos e católicos fanáticos (e alguns
espertinhos que ganharam um troco pelas manifestações explícitas contra Dilma
Rousseff) foi terrível para mulheres que sofram, por iniciativa própria ou não,
um processo de aborto.
Sem assistência do SUS - já que ambos os candidatos não deverão
descriminalizar a prática pelo menos nos próximos quatro anos - muitas delas, a
maioria jovens, vão morrer de septicemia em clínicas clandestinas Brasil afora.
Nessas ocasiões , quando o quadro se agrava, a paciente, em geral, é levada às
pressas para a emergência de um hospital público, o que contribui para onerar
ainda mais os custos da saúde no país.
O episódio
dos mísseis de papel e a encenação de Serra não adiantaram muito porque, no dia
seguinte, Dilma Rousseff foi atingida por um saco plástico com água, no Rio
Grande do Sul.
Dilma não simulou ferimentos nem procurou socorro no consultório
de um médico petista. Continuou na campanha e aproveitou a presença - quase
sempre hostil - da mídia corporativa para mandar recado ao adversário.
O grupo em
torno de Serra é exímio em trapalhadas. A primeira foi escolher Índio da Costa (DEM)
para vice do tucano. Na virada para o segundo turno, Serra e a cúpula do partido
tentaram trocar de personagem, mas foram desaconselhados.
A legislação, dúbia no caso, impediu que o
vice indesejável fosse defenestrado. O resultado é que o ex-prefeitinho do Rio
está proibido de abrir a boca. Quando o fez, aliás, no início da campanha, foi
um desastre.
A segunda
trapalhada foi exibir uma foto do presidente Lula, no fundo do cenário, durante
os primeiros dias da campanha na TV. Choveram críticas, Lula disse que não se
importava com o uso de sua imagem e o banner desapareceu do dia para a noite.
Agora,
Serra simula ferimentos graves depois de ser atingido por
uns poucos gramas de papel. Será que o respeitável público vai acreditar na
simulação?
Como a
popularidade de Lula continua intacta, o programa do PSDB, que está sendo
exibido, consiste apenas em tentar demonstrar que o candidato vai continuar na
mesmíssima linha do governo – o que só mesmo a velhinha de Taubaté
acredita – e, no embalo, ainda vai aumentar o mínimo para R$ 600 e dar 13º para
o pessoal do Bolsa Família.
Logo Serra, sempre favorável ao arrocho e defensor
da máxima segundo a qual todo aumento no salário mínimo provoca inflação.
Aliás, se
eleito fosse, Serra poderia justificar junto ao respeitável público o não
cumprimento das promessas de campanha.
Afinal, todo mundo sabe que ele rasgou o compromisso de permanecer por
quatro anos como prefeito de São Paulo.
Compromisso assumido diante de alguns
poucos milhões de espectadores que assistiam ao debate pela TV Record e ratificado,
depois, num cartório da cidade.
Dicionário
do Aurélio
“Edema:
acúmulo de líquido proveniente do sangue em qualquer tecido ou órgão”.
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