Comentário
sobre as eleições tende a valorizar fatos periféricos – que não deixam de
influenciar quem vota, mas em proporções mínimas – deixando de lado o que
realmente está decidindo.
É lógico que
tentar colar a imagem em Lula – a foto do atual presidente emoldurou alguns
programas de José Serra – foi um erro patético. Assim como a escolha do vice,
Índio da Costa, um desconhecido fora do Rio de Janeiro que, de cara, revelou-se
um atrapalhado porta voz da campanha tucana.
Um grande
fiasco num debate pela TV, uma notícia impactante de última hora, também podem
produzir reviravoltas importantes.
Mas tudo
isso só se consolida num cenário em que a economia é uma pauta de menor
importância e o crescimento econômico não pode ser visto a olho nu.
Ou como
acontece nas disputas em que o eleitor sabe – ou acredita que seja assim – que
sua vida não vai mudar muito se o escolhido for esse ou aquele candidato.
Assim, em
eleições proporcionais, as tendências podem variar dependendo de fatores
periféricos. Nas majoritárias a situação muda um pouco. Quem vota tem
expectativas maiores sobre quem vai ser eleito.
Mas todo
mundo sabe que, na outra ponta, quem decide mesmo sobre sua vida é o próximo
presidente. Foi assim quando o sociólogo Fernando Henrique Cardoso conseguiu
seu segundo mandato.
A economia estava então em pleno marasmo, o crescimento próximo do zero e o desemprego estagnado em
patamares altos. Mas o respeitável publico preferia isso ao retorno da inflação
desgovernada.
FHC foi
escolhido para encarnar o fim do desatino da moeda. Ganhou com certa facilidade
(embora seu antecessor, Itamar Franco, tenha dito que sua única participação no Plano Real
tenha sido apor sua assinatura nas novas notas).
A eleição
presidencial que se avizinha é disputada num cenário totalmente diferente. O
país está em um momento de vigoroso crescimento econômico, bate recordes no
número de pessoas empregadas, há crédito fácil na praça.
Fica difícil
alguém querer correr qualquer tipo de risco diante de uma situação dessas. É
como se fosse um Plano Real às avessas? Talvez. No entanto, o cenário foi
esboçado quatro anos atrás.
O país já
apresentava um quadro saudável, mas os números estavam longe do que se vê agora
em 2010. Mesmo assim, a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva mostrou uma
fantástica mudança de perfil no eleitorado.
Em 2002, o
candidato do PT teve um apoio grande de setores da classe média ansiosa pelo
“novo”. Lula venceu nas grandes cidades, em parte com votos de eleitores com
maior nível escolar.
E foi
arrasado nos chamados grotões, as cidades com menos de vinte mil eleitores,
onde a troca de votos por benesses de última hora era prática oriunda da
Primeira República.
Em 2006, os
votos do candidato do PT já vinham, em sua grande maioria, de regiões mais
pobres do interior e da periferia das grandes cidades.
Em 2010, com
a consolidação de uma nova política econômica, Lula ficou à vontade para fazer,
da executora das políticas de governo, sua candidata à sucessão.
Lula
elegeria até um poste, disse um desconsolado comentarista político na TV. É
verdade em parte. Apesar do carisma foi a política econômica do governo Lula
que levou a candidata Dilma Rousseff a uma posição privilegiada nas pesquisas
até agora.
A rapaziada
que anda “queimando as pestanas”, como se dizia no passado distante, para
descobrir as razões do sucesso da candidata do PT, deveria prestar um pouco
mais de atenção na economia.
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