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terça-feira, 19 de outubro de 2010

“Independência” do PV e Marina serão cobrados mais tarde

Deu no jornal:
Marina Silva e PV anunciam posição de “independência” no segundo turno
A senadora Marina Silva e o Partido Verde anunciaram neste domingo posição de "independência" em relação à disputa do segundo turno da eleição presidencial entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).
Um dia após a senadora Marina Silva e o PV declararem “independência” no segundo turno da eleição presidencial, membros do partido declararam apoio nesta segunda-feira (18) à candidatura de José Serra (PSDB). O apoio foi declarado em ato na cidade de São Paulo e encabeçado por Fabio Feldmann e Fernando Gabeira, ex-candidatos do PV aos governos de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente.

Um velho amigo, juiz durante muitos anos na comarca de Teresópolis, considerava a omissão o pior dos crimes. Não é preciso ir tão longe, mas a velha malandragem do “em cima do muro” pode, às vezes, produzir resultados decepcionantes num futuro mais próximo do que se imagina. Senão vejamos.

Marina Silva e o PV já se encarregaram de ajudar a levar a eleição para o segundo turno. Obviamente, a então candidata dos verdes tinha todo o direito de se candidatar à presidência da república, mesmo que, no íntimo, ela, seus seguidores e correligionários tivessem absoluta certeza de que, isolado, o PV não iria a lugar nenhum. 

E estava apenas tentando abrir espaço para seus quadros no cipoal da política brasileira.

Em alguns casos, como o de Marina Silva, deu certo. Em outros, não. Gabeira, candidato-a-qualquer-coisa pelo PV, foi impiedosamente surrado no Rio. O mesmo aconteceu com Fábio Feldmann em São Paulo, o que suscita a tese de que oportunismo nem sempre dá resultado.
  
É mais ou menos óbvio que a candidata e seu partido comecem, a partir de agora, a imaginar que na próxima eleição presidencial a “independência” de hoje possa pavimentar a via para o Palácio do Planalto. 

Projeta-se, com certeza, que a questão ambiental entre cada vez mais na pauta do cidadão comum e que, em determinado momento, a defesa das teses dos ecologistas ganhe importância a ponto de levar o respeitável público a eleger candidatos verdes.

Nesse momento, o partido teria, então, um nome a ser posto na mesa. Ou na urna, para a satisfação dos desejos dessa parcela da população. Imagina-se que possa se repetir por aqui o que já ocorre em algumas nações européias onde os verdes têm grande influência nos governos.

Mesmo assim, não é seguro que esses objetivos sejam atingidos. Um exemplo claro de que a técnica de lançar um nome à presidência para obter ganhos futuros não dá muito certo, aconteceu por aqui mesmo. 

Há quatro anos o PSOL desenvolveu raciocínio semelhante e lançou a então senadora Heloísa Helena candidata à presidência. Houve um pequeno frisson, principalmente entre os desencantados com  o PT e a votação da candidata foi razoável. Mas seu resultado pífio nas eleições em Alagoas, agora em 2010, mostra que as coisas não são bem assim.

Marina Silva é a Heloísa Helena de ontem. A candidata do PSOL teve, em 2006, menos votos do que Marina, talvez porque sua plataforma radical e solitária tenha assustado os eleitores. 

Marina tem uma agenda, sem dúvida, mais consistente, mas a omissão no segundo turno vai direto para a pauta dos adversários quando a ex-senadora tentar voos mais altos.

Esse distanciamento gênero “lavo minhas mãos” que o PV pregou no sábado, significa que o partido não sabe distinguir entre os níveis do desmatamento da amazônia e do pantanal que ocorriam até recentemente e os esforços – feitos inicialmente pela própria Marina e depois pelo ministro Carlos Minc – que reduziram a quase zero essa práticas.

A “independência” significa que Marina Silva, Fábio Feldmann e Fernando Gabeira não estão nem aí para o fato de que a senadora Kátia Abreu, o deputado Ronaldo Caiado e a bancada ruralista no Congresso fecham com Serra e certamente iriam influenciar um presidente que já mostrou, de público, que rasga compromissos. Até mesmo os assinados em cartório.

Numa eleição futura, independentemente do resultado desta, Marina Silva será cobrada, não por ter apoiado a direita que ameaça transformar a amazônia em pastagem – porque o PV, é claro, não vai se posicionar nesse sentido – mas por dar as costas ao problema , atrás de ganhos futuros.

Em casos como esse talvez a omissão seja o pior dos crimes.

Quanto aos derrotados Fernando Gabeira e Fábio Feldmann, surrados na eleição para os governos do Rio e São Paulo, é natural que procurem abrigo nas hostes da direita. 

Mas vai ser divertido ver os dois ex-verdes no palanque com praticantes da derrubada de florestas e grilheiros com uma longa história de rapinagem das terras públicas.


Talvez não seja tão divertido para os jovens que acreditaram, até agora, que Gabeira e Feldmann  eram mesmo contra o desmatamento da amazônia e do pantanal. 

Para os dois recém-falecidos politicamente, restará o dissabor de passarem à História como apoiadores de pessoas que pregam exatamente aquilo que ambos diziam querer impedir.     

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