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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Religião, religiões

A conversa com “um novo amigo de antigas batalhas”* aconteceu a bordo de dois cafezinhos,na praça da igreja, o meu puro sem açúcar. 

O papo nos remetia ao primeiro turno das eleições para presidente e concordávamos sobre a força das religiões – no caso católicos e neopentecostais do mesmo lado conservador, alguns à direita da direita, com a Opus Dei apoiando Serra. 

Segundo meu amigo, a força das religiões vem do fato de que sua ideologia toca o coração das pessoas.

Não vou tão longe, mas sou lembrado da guerra interminável na Palestina e me recordo, também, de matanças até entre populações hindus. As convicções justificam tudo. Cristãos e muçulmanos vêm há milhares de anos lutando pela posse de Jerusalém, mas o poder, no século 21, está mesmo com uma terceira força: os judeus. 

O futuro, quando os poços de petróleo do Oriente Médio não produzirem mais, pode determinar uma reviravolta. Não haverá mais porque manter o papel de Israel como guardião dos combustíveis que movimentam o Ocidente.

Uma rápida viagem de volta ao Brasil nos leva ao fato de que não foram as religiões que determinaram a ida de Dilma Rousseff para o segundo turno, mas o uso que delas fizeram a direita conservadora.

Muitos dos padres e pastores que incitaram suas ovelhas a descarregar  votos em Marina Silva foram, simplesmente, enganados pela mídia. Muita gente boa  acreditou que o programa de governo do PT incluía o incentivo ao aborto. Ou coisa parecida.

Chegamos, então, ao paradoxo de ambos os candidatos, por força das circunstâncias, apoiarem o que há de mais retrógrado: a criminalização do aborto e, por consequência imediata, a impossibilidade de mulheres vítimas de intervenções mal feitas terem acesso ao socorro médico do SUS. 

É complicado, mas pessoas religiosas, próximas das vítimas, sempre poderão dizer que a morte foi um desígnio de Deus.

E o que virá a seguir? Munidos do poder que estão adquirindo na eleição, as igrejas devem arrancar do vencedor - provavelmente Dilma Rousseff - prerrogativas que ampliem ainda mais sua atuação, que já se faz, principalmente, entre as populações de baixa renda, com menor grau de escolaridade e informação. 

Além disso, as bancadas religiosas tentarão influir, com força, para impedir a descriminalização do aborto e a união civil entre homossexuais. Será, sem dúvida alguma, um retrocesso.

Segundo a Constituição, o Brasil é um país laico. Poderá  continuar a ser com esse capítulo virando letra morta? E o futuro? Vamos ter um presidente necessariamente comprometido com os dogmas? 

Haverá um momento em que o país correrá o risco de ser transformado na Irlanda dos anos 70, 80,90? O Rio de Janeiro será a Belfast ou a Derry  do final do século 21? Chegaremos, como paliativo para as discórdias, a ter um presidente neopentecostal e um primeiro ministro católico?

Ou o desenvolvimento econômico e o crescimento da taxa de escolaridade se encarregarão de fazer retornar o brasileiro à postura laica?

*A frase, lá em cima, é do poeta e jornalista Girlan Miranda


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