Deu no
jornal:
Marina Silva e PV anunciam posição de “independência”
no segundo turno
A senadora Marina Silva e o Partido
Verde anunciaram neste domingo posição de "independência" em relação
à disputa do segundo turno da eleição presidencial entre Dilma Rousseff (PT) e
José Serra (PSDB).
Um dia
após a senadora Marina Silva e o PV declararem “independência” no segundo turno
da eleição presidencial, membros do partido declararam apoio nesta
segunda-feira (18) à candidatura de José Serra (PSDB). O apoio foi declarado em
ato na cidade de São Paulo e encabeçado por Fabio Feldmann e Fernando Gabeira,
ex-candidatos do PV aos governos de São Paulo e Rio de Janeiro,
respectivamente.
Um velho
amigo, juiz durante muitos anos na comarca de Teresópolis, considerava a
omissão o pior dos crimes. Não é preciso ir tão longe, mas a velha malandragem
do “em cima do muro” pode, às vezes, produzir resultados decepcionantes num
futuro mais próximo do que se imagina. Senão vejamos.
Marina
Silva e o PV já se encarregaram de ajudar a levar a eleição para o segundo
turno. Obviamente, a então candidata dos verdes tinha todo o direito de se
candidatar à presidência da república, mesmo que, no íntimo, ela, seus
seguidores e correligionários tivessem absoluta certeza de que, isolado, o PV
não iria a lugar nenhum.
E estava apenas tentando abrir espaço para seus
quadros no cipoal da política brasileira.
Em alguns
casos, como o de Marina Silva, deu certo. Em outros, não. Gabeira,
candidato-a-qualquer-coisa pelo PV, foi impiedosamente surrado no Rio. O mesmo
aconteceu com Fábio Feldmann em São Paulo, o que suscita a tese de que
oportunismo nem sempre dá resultado.
É mais ou
menos óbvio que a candidata e seu partido comecem, a partir de agora, a imaginar
que na próxima eleição presidencial a “independência” de hoje possa pavimentar
a via para o Palácio do Planalto.
Projeta-se, com certeza, que a questão
ambiental entre cada vez mais na pauta do cidadão comum e que, em determinado
momento, a defesa das teses dos ecologistas ganhe importância a ponto de levar o
respeitável público a eleger candidatos verdes.
Nesse
momento, o partido teria, então, um nome a ser posto na mesa. Ou na urna, para
a satisfação dos desejos dessa parcela da população. Imagina-se que possa se
repetir por aqui o que já ocorre em algumas nações européias onde os verdes têm
grande influência nos governos.
Mesmo
assim, não é seguro que esses objetivos sejam atingidos. Um exemplo claro de
que a técnica de lançar um nome à presidência para obter ganhos futuros não dá
muito certo, aconteceu por aqui mesmo.
Há quatro anos o PSOL desenvolveu
raciocínio semelhante e lançou a então senadora Heloísa Helena candidata à
presidência. Houve um pequeno frisson, principalmente entre os desencantados
com o PT e a votação da candidata foi
razoável. Mas seu resultado pífio nas eleições em Alagoas, agora em 2010,
mostra que as coisas não são bem assim.
Marina
Silva é a Heloísa Helena de ontem. A candidata do PSOL teve, em 2006, menos
votos do que Marina, talvez porque sua plataforma radical e solitária tenha assustado
os eleitores.
Marina tem uma agenda, sem dúvida, mais consistente, mas a
omissão no segundo turno vai direto para a pauta dos adversários quando a
ex-senadora tentar voos mais altos.
Esse
distanciamento gênero “lavo minhas mãos” que o PV pregou no sábado, significa
que o partido não sabe distinguir entre os níveis do desmatamento da amazônia e
do pantanal que ocorriam até recentemente e os esforços – feitos inicialmente
pela própria Marina e depois pelo ministro Carlos Minc – que reduziram a quase zero
essa práticas.
A
“independência” significa que Marina Silva, Fábio Feldmann e Fernando Gabeira
não estão nem aí para o fato de que a senadora Kátia Abreu, o deputado Ronaldo
Caiado e a bancada ruralista no Congresso fecham com Serra e certamente
iriam influenciar um presidente que já mostrou, de público, que rasga
compromissos. Até mesmo os assinados em cartório.
Numa
eleição futura, independentemente do resultado desta, Marina Silva será cobrada,
não por ter apoiado a direita que ameaça transformar a amazônia em pastagem –
porque o PV, é claro, não vai se posicionar nesse sentido – mas por dar as
costas ao problema , atrás de ganhos futuros.
Em casos
como esse talvez a omissão seja o pior dos crimes.
Quanto
aos derrotados Fernando Gabeira e Fábio Feldmann, surrados na eleição para os
governos do Rio e São Paulo, é natural que procurem abrigo nas hostes da
direita.
Mas vai ser divertido ver os dois ex-verdes no palanque com praticantes
da derrubada de florestas e grilheiros com uma longa história de rapinagem das
terras públicas.
Talvez
não seja tão divertido para os jovens que acreditaram, até agora, que Gabeira e
Feldmann eram mesmo contra o
desmatamento da amazônia e do pantanal.
Para os dois recém-falecidos politicamente,
restará o dissabor de passarem à História como apoiadores de pessoas que pregam
exatamente aquilo que ambos diziam querer impedir.
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