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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Guerra do Rio

Ocupações quase sempre traumáticas
No momento em que escrevo já são 21 mortos.  São 19:30 de quarta-feira (24) e com o avanço da noite os tiroteios devem recrudescer. Qual será o saldo de amanhã? A guerra do Rio está em pleno andamento, mas dessa vez a polícia parece ter um comando sério, competente, que já esperava por eventos desse gênero.

A queima de veículos é uma tentativa clara dos traficantes no sentido de coagir a ação policial. Até agora a resposta segue o caminho da retaliação. Segundo o coronel Lima Castro, encarregado das relações com a mídia, os mortos são bandidos que resistiram a ação policial. É possível. E não há, pelo menos até esse momento, notícias de pessoas atingidas por engano ou vitimadas por balas perdidas.


Como ex-repórter da editoria de polícia de O Globo tenho uma visão que pode não ser tão politicamente correta quanto a dos que militam em ONGs e outras instituições defensoras dos direitos humanos e afins. Acho que às boas intenções dessas pessoas (que são realmente bem intencionadas) somam-se visões de classe média, algumas vezes distorcidas.

São pessoas que tem razão quando lamentam a violência dos órgãos de repressão contra indivíduos oriundos de parte da uma população vítima de preconceito social (e racial) que passa a vida sem possibilidade de acesso a ensino de boa qualidade e sem igualdade de oportunidades em empregos de melhor nível.

Concordo, mas só em parte. Noventa e nove por cento da população favelada ou de bairros carentes do Rio e Baixada não teve essas oportunidades e nem por isso ingressou no tráfico. Pelo contrário, enfrentam um dia-a-dia desgastante, baixos salários, passam horas na condução e as condições de trabalho são, em geral, deploráveis.  

A guerra que se desenrola nesse momento é motivada pela implantação das UPPs, que tomam os espaços antes ocupados por traficantes ou milicianos. Em ambos os casos isso significa uma radical perda de receita por quem comanda as duas atividades.

Apesar disso, muitos dos pequenos capos do tráfico que perderam seus territórios, foram aceitos em outras comunidades carentes. A guerra do Rio, segundo a polícia, é resultado da união de grupos e facções antes dispersas ou concorrentes e, em muitos casos, inimigas.

Em alguns casos isso é possível porque os consumidores de drogas estão dispostos a seguir os fornecedores. Então o que acontece é apenas um translado de clientes, que não afeta tanto assim os lucros de quem já está estabelecido na área.

Uma pequena parte da classe média, com presença forte nos jornais (é para ela que são publicados) e boas intenções, ainda acredita que o traficante é uma espécie de Robin Hood operando numa Sherwood carioca, pagando enterros, comprando medicamentos e comida para os mais pobres entre os pobres. Em locais onde, aliás, os serviços públicos nem chegam próximo.

Outra parte não vai a tanto, mas não dimensiona a tirania imposta pelo tráfico, o que inclui o recrutamento compulsório de crianças e adolescentes, a imposição, do “toque de recolher”, e a sedução de meninas e mulheres, carentes e sem perspectivas, que acabam também sendo envolvidas na atividade.

No momento a saída é o confronto. Não há como negociar. O atual comando da polícia sabe que um recuo, uma trégua, é impossível. Então é bem provável que o número de mortos continue crescendo. E pior do que isso: é possível que pessoas inocentes acabem mortas nos confrontos.

Mas para quem ainda tem dúvidas sobre o papel de traficantes nas favelas e comunidades carentes do Rio de Janeiro, basta ver o que acontece quando eles e seus soldados saem de lá.  

Texto de: José Attico
  


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