Escrever
sobre política local em tempos de eleição, aprendi, é problemático. Uma frase,
uma opinião mesmo que singela, um parágrafo aparentemente mal colocado, num
jornal aparentemente pouco lido, parecem ter o dom de tirar o sono do
candidato. Ou votos, na opinião dele.
No passado um
tanto distante e depois de ouvir cinco ou seis “experts” em política local,
escrevi que um candidato a deputado federal tinha pouca ou nenhuma chance de
ser eleito. Nada contra o candidato, a opinião se baseava em alguns fatos – um
deles a visível falta de recursos para uma campanha bem sucedida – e nas opiniões
colhidas.
O candidato,
uma pessoa educada, reclamou e muito. Eu estava há relativamente pouco tempo na
cidade e não podia imaginar algum possível efeito devastador sobre a
candidatura. Mas parece que havia.
Não
exatamente devastador, mas segundo meu interlocutor alguns votos, antes quase
certos, escorreram ralo abaixo depois da matéria.
O candidato
até que, contrariando minhas expectativas, não foi tão mal assim. Ficou
suplente e chegou a assumir o cargo. De qualquer modo aprendi a lição: melhor é
não dar pitaco na rádio, não palpitar por escrito.
Antes do
último 3 de outubro a tentação de produzir matérias sobre as possibilidades
eleitorais dos 17 candidatos a deputado com bases eleitorais em Teresópolis também
era grande.
Deixei de
lado. Mas em conversas mais ou menos reservadas, com amigos, disse que as chances
de qualquer nome “da cidade” sair eleito eram próximas do zero. Alguém ponderou
que Nilton Salomão poderia ser eleito. Não acreditei; errei feio.
Também não
imaginei que Nestor Vidal chegasse à casa dos 51.000 votos. Em números
arredondados foram 18.000 em Teresópolis, 25.000 em Magé e o restante em
Guapimirim e municípios próximos. A votação não deixou espantado apenas este
escriba.
Muita gente
que dita cátedra sobre eleições também se surpreendeu.
Vidal, Salomão
& outros candidatos “de Teresópolis”, aliás, foram tema de parte do
programa Ponto Final da ForPress gravado na terça-feira (9) para a TV Cidade.
Como
televisão é a arte do superficial, muitas vezes uma opinião é editada pela
metade. E pior, em alguns casos o corte faz parecer que o autor da opinião
disse exatamente o que não pensa.
De qualquer
forma o rescaldo da última eleição, posto na mesa durante o programa, concluiu
que Teresópolis rejeita o PT, embora Nilton Salomão tenha sido eleito pelo
partido.
Nesse caso o
PT não seria levado em conta, mas sim o candidato. É possível. Até porque nas
eleições para prefeito em 2008 Salomão era o vice na chapa do PMDB.
Meu
companheiro de programa, Henrique Carregal, presidente da ACIAT, acredita que
os 18.000 dados na cidade a Nestor Vidal
o colocam na condição de liderança local. Concordo, mas só em parte.
Cleyton
Valentim (10.000 votos) é outro nome que chamou a atenção. Valentim e Erika
Marra(também ) “dividiram os votos petistas na cidade”, mas a divisão não
impediu que Salomão (também petista)se elegesse.
Sobre o
futuro ninguém discute a importância do deputado eleito daqui por diante na
política local, mas no caso da disputa pela prefeitura, por exemplo, o deputado
terá que sair vitorioso na convenção do PT local, numa briga de foice com o
atual prefeito Jorge Mario Sedlacek.
Isso porque
não há dúvida de que o atual ocupante do cargo, pleiteia um segundo mandato.
Não vejo
muitas possibilidades para os candidatos veteranos. Mário Tricano perdeu, em
2008, para Jorge Mario e um especialista no marketing político , dias antes da
eleição, vaticinou que o ex-prefeito não tinha a menor possibilidade de vencer.
Segundo ele, o índice estratosférico de
rejeição do candidato faria com que o eleitor procurasse votar em alguém que
pudesse derrotá-lo. José Carlos Faria, acossado pela proximidade com Roberto
Petto e problemas com a Certef, acabou em terceiro. O especialista havia
previsto para o PMDB: ou vitória ou terceiro lugar. Não deu outra.
No caso de
Roberto Petto sua votação em 2010 é um forte sinalizador de que a rejeição permanece.
O candidato, segundo pessoas próximas, esperava pelo menos 10.000 votos; teve
pouco mais de 4.000. É complicado, mas essa análise está sendo feita dois anos
antes do próximo pleito. Até lá muita coisa pode ser rearranjada na política
local.
No caso do
atual prefeito Jorge Mario, serão dois anos para virar o jogo. Até agora a
rejeição braba é motivada pelas sucessivas matérias aparecidas nos jornais e
emissoras de rádio que fazem oposição. Os
escândalos aparentemente “colaram” na atual administração.
No início do
mandato foi a concessão para recolhimento de lixo domiciliar, depois o
superfaturamento na compra de uniformes escolares. Mais tarde o aparecimento de
uma página do diário oficial que teria sido falsificada.
O prefeito
também acabou envolvido na substituição (quantas foram até agora!?) de seus
secretários, o que para o respeitável público dá a impressão que as escolhas
iniciais foram erradas.
Jorge Mário,
porém, tem um trunfo importante na manga do qual talvez ele próprio desconheça
a extensão. Seu programa Pique Trabalho,
criado a partir de demandas do Orçamento Participativo, se ampliado e bem
trabalhado, pode produzir uma enxurrada de votos vindos das áreas carentes da
periferia de Teresópolis.
Jorge Mario, por outro lado, também terá “a
máquina na mão” e concorrentes com altíssimos índices de rejeição daqui a dois
anos. Se ainda puder contar com o apoio do PT – se até lá suas estripulias
políticas não provocarem a ira do partido – ainda é o nome mais forte para
manter-se no poder.
A eleição de
2012 parece, nesse momento, bastante distante. É possível que os futuros
candidatos a prefeito e à Câmara Municipal ainda acreditem que é cedo para
mover as peças no tabuleiro do xadrez político.
E ainda dá
tempo para o surgimento de algum novo jogador, estrela fulgurante, que venha a
ameaçar o rei adversário. Provavelmente daqui a um ano o jogo comece. Então
poderemos ver se o que foi escrito agora estará ou não próximo da realidade.
Texto de: José Attico
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