Fuga de traficantes na Vila Cruzeiro foi um fiasco |
O secretário
de Segurança José Mariano Beltrame disse ontem aos jornais e emissoras de TV
que “o importante é tomar dos traficantes o território que nunca foi seu...” Referia-se,
é claro, à ocupação pela polícia da Vila Cruzeiro.
Pode ser.
Mas para quem já participou, como repórter, de cercos como o de ontem (quinta-feira,
25) a fuga de 200 traficantes, encurralados na favela foi um belo fiasco.
Se os homens
que passaram para o Morro do Alemão com suas armas tivessem sido presos, ou até
mortos no confronto, o golpe na violência que toma conta das ruas do Rio teria
sido quase fatal. Não foi.
A fuga para
a favela ao lado e possível dispersão dos criminosos pela cidade deve manter a
tensão em níveis altíssimos nos próximos dias.
Não importa
que alguns dos chefões, presos e condenados, tenham sido transferidos de Bangu
para Catanduva e outros de Catanduva para Porto Velho. O tráfico tem dinheiro e
com dinheiro as distâncias encurtam.
A essa
altura do campeonato, uma alteração drástica na legislação que garante
privacidade a presos considerados perigosos, pode ser mais eficiente do que
afastá-los do local onde viviam antes da condenação.
Pelo menos
essa é a opinião de alguns especialistas no assunto. Os traficantes são ousados, mas sabem muito
bem que não vão derrotar a máquina do Estado.
O governo já
lançou mão de forças militares sediadas no Rio, vai ter hoje (sexta-feira 26)o reforço
de 300 homens da Policia Federal a ainda pode contar com mais policiais da
Força Nacional de Segurança (o nome é esse mesmo?) se achar necessário.
O desafio
lançado pelos bandidos é também resultado do desespero pela perda da
arrecadação que a venda de drogas possibilita. Sem recursos, não há como
comprar o produto que comercializam.
Então os fornecedores
de armas vão para as sombras e os advogados, aos poucos, saem de cena.
O problema é
que esses fatos estão acontecendo quando apenas parte das comunidades, antes
território dos traficantes, foi tomada pelo Estado através da implantação das
UPPs.
Há muita
coisa ainda para ser feita e é difícil imaginar o que acontecerá quando os
traficantes forem sendo encurralados e acabarem ficando quase sem território. É
bom lembrar que na Rocinha, por exemplo, o tráfico ainda não foi incomodado.
Virão para
cidades de menor porte como Teresópolis? É difícil, porque sua identificação vai
ser imediata. Por outro lado, embora os compradores em geral sigam seus
“fornecedores de fé”, uma viagem a Teresópolis para comprar drogas é mais
complicado.
Depois,
encurralar traficantes na Quinta Lebrão ou no Morro do Rosário é muito mais
simples do que os confrontos no Morro do alemão ou na Vila Cruzeiro.
E em
Teresópolis não há compradores de drogas em número suficiente, com grana
suficiente, para satisfazer a necessidade dos chefes que comandam os morros do
Rio.
É possível
que o próximo passo – que deve demorar porque ainda existem no Rio muitas áreas
abertas à sua atividade – seja a ida para outros estados, onde a polícia ainda
não pensa em ocupar território.
É
problemático. Essas áreas pertencem aos traficantes locais e a mudança implica
numa nova logística para a chegada de cocaína, maconha e crack aos novos
pontos.
Há também
uma questão de mercado. O traficante conta com um grupo mais ou menos fiel de
compradores que só iria se deslocar para São Paulo, por exemplo, se o tráfico
fosse realmente extinto no Rio. O que é impossível.
No caso de
São Paulo, governado pela oposição, não há possibilidade à vista de que o
método de ocupação por UPPs, utilizado no Rio, seja replicado. Ponto para quem
vende drogas.
Mas o
deslocamento de grupos de traficantes para a cidade mais rica do país
desencadearia uma guerra, talvez mais violenta do que o Rio está vivendo no
momento.
Lamentavelmente
o que se pode esperar, com a redução da atividade do tráfico, é o
recrudescimento de assaltos a banco, seqüestros, roubo de carros e outros crimes
que gerem recursos para bandidos acostumados com faturamento alto.
Texto de:
José Attico
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